Um manifesto contra o mito da comunicação-responsabilidade unilateral
Já ouviu aquela frase que diz: “Comunicação não é o que você fala, é o que o outro entende”?
Bonita. Mas imprecisa.
Quando colocamos toda a responsabilidade da comunicação em quem fala, esquecemos de algo básico: a escuta também é uma escolha.
Se o outro não está disposto a ouvir ou a empresa não favorece um ambiente de compreensão, nenhuma técnica de oratória vai funcionar.
Comunicação eficaz não é sobre mágica. É sobre contexto, escuta e intenção dos dois lados. Comunicação é uma via de mão dupla. Exige tanto clareza de quem fala quanto disponibilidade de escuta de quem ouve. Exige presença. Exige intenção.
A comunicação falha quando um fala sozinho. Mas também quando o outro não está disposto a escutar, como se o outro lado fosse uma entidade passiva, isenta, neutra. E não é.
Quem comunica tem, sim, responsabilidade de clareza. Mas quem escuta tem o dever de presença. A comunicação só é potente quando há espaço para a mensagem pousar, ecoar e ser co-construída.
Quando a escuta é seletiva, enviesada ou superficial, não há técnica de oratória ou roteiro estratégico que salve.
Comunicação sem escuta é só um monólogo bem intencionado. E monólogo não transforma cultura, não resolve conflitos, não move times.
Na lente do design organizacional:
Se desenhamos organizações apenas para otimizar fluxos, mas não para facilitar compreensão mútua, criamos sistemas onde a mensagem chega, mas não ecoa.
Design organizacional também é sobre redesenhar escutas. Sobre fazer perguntas melhores. Sobre deixar de projetar comunicações unilaterais e começar a construir ambientes que favoreçam o entendimento real e não o entendimento conveniente.
Escrito por Rosana Sampaio.